Na exposição “TEMPO”, as nuvens geométricas, sólidas, transparentes ou quase invisíveis, deixam de ser simples símbolos do clima e se tornam representantes do tempo cronológico. A artista acredita que observar o comportamento do tempo é caminho para consciência e ferramenta fundamental para alcançar uma vida longa, independente do tempo que nos seja dado.
“A vida não é breve, ela é suficiente.” Sêneca
A obra ‘Vida’ é um testemunho da riqueza dos momentos vividos, um tributo à autenticidade e à profundidade das experiências que moldam a nossa existência. Esta peça central da exposição é composta por um conjunto de obras da série ‘Momentos Concretos’, cada uma representando um momento de presença genuína – os momentos em que abandonamos a repetição automática da vida cotidiana e nos entregamos plenamente ao presente.
As obras da série ‘Momento Concreto’ são instantes de presença plena, onde cada detalhe é vivenciado com intensidade e clareza – quando nos encontramos imersos na textura do momento, dos pensamentos e das sensações que se desenrolam como uma narrativa silenciosa, porém, marcante em nossas próprias histórias. Através dessa série, a artista nos lembra que a vida não é medida apenas pelos anos que vivemos, mas pela profundidade e autenticidade dos momentos que experimentamos.
A série “memória” é uma exploração do delicado equilíbrio entre o que foi vivido e o que se desvanece no passado. Aqui, o tempo se desenrola e as memórias desaparecem gradualmente, mas deixam para trás uma impressão profunda, uma espécie de sombra, que ecoa no íntimo de nossa existência. Esta sombra, entretanto, não é uma mera réplica fiel do que aconteceu, mas uma interpretação única, moldada pelas cores e tonalidades de nossa perspectiva pessoal e pela lente através da qual vemos o mundo.
‘Memória’ simboliza o controle sobre o modo como interpretamos as experiências que nos moldam. Ela nos convida a reconhecer que o passado não é uma prisão, mas um caleidoscópio em constante mutação que proporciona beleza na flexibilidade das interpretações. É uma obra que nos desafia a abraçar a fluidez do tempo e a abertura de possibilidades que a nossa própria perspectiva pode criar.
A obra ‘Chuva’ simboliza o impacto transformador do tempo em nosso processo de amadurecimento. À medida que o tempo avança, nossa visão do mundo se alarga, e as cargas emocionais, que outrora eram pesadas, se tornam mais leves. É uma transformação gradual, um processo de evolução que nos permite lidar com as adversidades de modo mais compreensivo e sereno.
As obras da série ‘Passageira’ são um reflexo profundo de nossa própria existência efêmera e da relativa falta de controle que temos sobre o fluxo do tempo. Cada obra dessa série é um convite para contemplar a impermanência, uma força universal que molda todas as facetas de nossas vidas.
As nuvens passageiras não nos convidam apenas a contemplar a transitoriedade, elas também nos inspiram a encontrar a beleza dessa impermanência; nos lembra que é justamente a efemeridade da vida que dá valor e significado às nossas experiências. A consciência de que cada momento é único e irrepetível nos leva a apreciar plenamente a beleza do presente.
Texto da exposição individual TEMPO, Vitória/ES, Brasil, outubro de 2023
Na exposição intitulada Recortes. A artista propõe um caminho que vai muito além daquilo que é visível à primeira vista, através de pinturas delicadas, minuciosos recortes, colagens e montagens em papel e linho.
Obras minimalistas nas quais as formas e contornos permitem que luzes e sombras preencham os vazios e proporcionem dramaticidade e revelações. Cores secas, muitas vezes neutras, são uma das marcas de sua produção. Na busca de sensações de calma e conexões profundas, foge dos tons vibrantes. Com inspiração na natureza e nos elementos e materiais usados na arquitetura – área de sua formação – sua produção artística é um convite à reflexão e à ruptura do pensamento linear.
“Palavras como tijolos na construção de pensamentos.”
Na série Tijolos e Notas, a artista toma posse de um livro antigo (Três contos de Gustave Flaubert, edição 1974) e confere aos textos uma nova poética através de recortes e novos agrupamentos. A cada página o excesso de palavras dá lugar a uma nova construção – simplificada porém profunda.
Na primeira, palavras recortadas flutuam sobre o empilhamento daquelas que foram subtraídas, formando uma imagem que se assemelha a uma parede de tijolos. Na segunda, a artista recria uma figura de folha de papel através de ranhuras com pintura e textura. A partir dessa página vazia ela constrói com a colagem das palavras um pensamento que se dispersa pelos seus traços.
“O pouco é suficiente, o vazio preenche.”
Na série Janelas Natália faz um chamado a auto-observação. Propõe um olhar curioso, através de pinturas, molduras de linho e de papel, criando pequenas maquetes para “enquadrar” as paisagens e proporcionar planos de profundidade onde parte da obra é escondida pela sobreposição. A redução dos elementos aparentes proporcionam ao espectador uma curiosidade e necessidade de aproximação, deslocando assim o seu olhar do exterior para si mesmo.
“A vista é para dentro.”
Orientada pela simplicidade e pela busca por detalhes, Natália investiga sentimentos através das palavras e das sensações que surgem de seus delicados gestos. Suas obras convocam o espectador para uma desconexão do próprio caos e para uma viagem em busca de quietude, clareza e silêncio.